15 49.0138 8.38624 1 0 4000 1 http://franzferdinand.com.br 300 true 0
theme-sticky-logo-alt

NME – Entrevista FFS : Franz Ferdinand e Sparks em como um dente quebrado e o pop dos anos 90 deu forma a inesperada colaboração

Os Mael fazendo amigos – os provocantes art rockers Sparks e Franz Ferdinand se conheceram uma década atrás, unindo-se por um amor ao pop desajustado. Uma promessa de colaboração se tornou, desde então, um álbum completo sob o nome FFS, que como Chris Cottingham constata, revitalizou as duas bandas.

 

 

 

FFS NME MAY 2015

Nunca teria acontecido se Alex Kapranos não tivesse quebrado um dente. Em 2013, o vocalista do Franz Ferdinand estava no Uruguai em turnê com sua banda quando deu azar, e ele não quis arriscar experimentar o sistema de saúde do país. A próxima parada era São Francisco, onde o empresário da banda conhecia o dentista de Huey Lewis. Sim, Huey Lewis, da engraçada banda de pop rock dos anos 80 Huey Lewis And The News. Aparentemente, o dentista de Lewis era o melhor. “E lá estava eu andando por São Francisco procurando pelo dentista de Huey Lewis,” explica Alex. “E eu ouço uma voz atrás de mim, dizendo ‘Alex? É você?’, eu me viro e vejo Ron e Russell.”

Eram Ron e Russell Mael, mais conhecidos como Sparks, os irmãos de Los Angeles que estabeleceram as referências para o art rock com o álbum de 1974 ‘Kimono My House’ (estrelando ‘This Town Ain’t Big Enough For Both Of Us’). Eles fizeram um ótimo trabalho também nos 19 álbuns subsequentes lançados durante 44 anos consecutivos de carreira. O Sparks ia tocar naquela noite, e convidaram Kapranos e o Franz Ferdinand. Ao final da noite, eles já tinham concordado que deveriam trabalhar em algo juntos – uma ou duas músicas, quem sabe.

Dois anos mais tarde, eles gravaram um álbum inteiro juntos como FFS. É menos uma colaboração e mais uma banda inteiramente nova com seis membros, composta pelos quatro membros do Franz Ferdinand e os dois irmãos Mael. O resultado é similar as duas bandas, mas com uma identidade distinta e própria. As guitarras agitadas e o groove tirado do dance de ‘Police Encounters’ são bem Franz, mas o refrão “bam bam diddy diddy” e o turbilhão de teclados é puro Sparks. Juntos eles fazem o que nenhuma das partes poderia fazer sozinha. Do mesmo modo, os acordes afiados e os vocais fortemente entrelaçados da faixa final ‘Piss Off’ mostram as diferentes visões que as duas bandas têm do art rock combinadas em quatro minutos de pop desajustado instantaneamente adorável. Enquanto isso, ‘Collaborations Don’t Work’ (típico título brincalhão do Sparks) é uma opereta pop que abre com guitarra dedilhada que vai sumindo para dar espaço para um grande movimento de orquestra/coral pop sobre o qual Russell e Alex trocam humilhações afiadas. “I don’t need your navel gazing / I don’t get your of phrasing / I don’t think you’re really trying / What pray tell are you implying” (Eu não preciso do seu egocentrismo /eu não entendo o seu estilo /eu acho que você não está tentando o suficiente /o que você está sugerindo?!). Não, esta não é uma colaboração qualquer.

Agora mesmo, Russell, Ron e Alex estão sentados bebendo chá no bar do Montecalm Hotel, em Londres. “Peço perdão pelo nível de falta de estilo”, diz Ron, impassível, um homem tão pouco preocupado com a opinião dos outros sobre ele que passou boa parte dos últimos 40 anos com um bigode estilo Hitler, embora hoje em dia ele exiba uma variação menos controversa no estilo lápis. Russell é um brincalhão. “Conte-nos sobre as señoritas no Uruguai”, ele provoca Alex, acrescentando com um sussurro encenado: “Foi assim que ele quebrou aquele dente.”. “Eu queria poder dizer que foi o resultado de algo tão rock’n’roll quanto uma señorita,” corrige Alex

As duas bandas se conhecem há mais de uma década. Quando os Maels ouviram o segundo single do Franz Ferdinand, ‘Take Me Out’ (2004), eles se comunicaram. O resultado foi um encontro art rock  às escuras em uma cafeteria em West Hollywood. “Nós estávamos super empolgados,” lembra Alex. “O Sparks teve um grande impacto em nós. No nosso primeiro ensaio de todos, nós experimentamos alguns covers e um deles foi ‘Achoo’ (do álbum do Sparks de 1974, ‘Propaganda’). Ficou horrível. As pessoas dizem que você nunca deve conhecer seus heróis, mas é bobagem.”

Eles falaram sobre gravarem um álbum juntos naquela primeira reunião e o Sparks escreveu ‘Piss Off’, mas o Franz Ferdinand estava prestes a lançar seu álbum de estreia, as coisas ficaram uma loucura e o projeto não deu em nada.

O encontro casual em São Francisco nove anos depois aconteceu exatamente quando o Franz Ferdinand estava prestes a lançar seu quarto álbum ‘Right Thoughts, Right Words, Right Action’, mas Alex estava determinado a não deixar a oportunidade escapar desta vez. “Eu me lembro de sentar com os outros e dizer, ‘Não importa o quão ocupados estivermos, nós temos de fazer acontecer’”, ele conta.

O Sparks iniciou o processo de maneira provocativa, enviando para o Franz Ferdinand a música ‘Collaborations Don’t Work’, “Foi meio que uma piada para ver se estávamos na mesma página”, diz Alex, olhando para Ron e Russell como que para ter certeza. “Quando Nick e eu ouvimos a música pela primeira vez, nós a achamos muito engraçada,” ele continua. Eles responderam à provocação com outra, em forma do trecho “We ain’t no collaborators, I am a partisan” (Eu não sou um colaborador, eu sou um partidário), equiparando a colaboração musical com a colaboração Nazista na Segunda Guerra. “Enquanto enviávamos, dissemos ‘Ou eles vão achar muito engraçado, ou eles nunca mais vão falar com a gente.” “Eu acho que esta música ressalta o fato de que ambas as bandas estavam cientes de que colaborações podem ser péssimas. Nós começamos isto não querendo fazer algo suave ou meia-boca”

A partir deste momento,FFSNME eles trabalharam em segredo por 18 meses, enviando faixas uns para os outros. “Nós mantivemos tudo por debaixo dos panos para que não houvesse expectativa,” diz Russell. Alex adiciona: “Colaborações geralmente são porcarias esquecíveis. Elas sempre só parecem muita promoção. Ao invés de construir esta na divulgação, nós queríamos ter conteúdo antes de contar ao mundo. Nós não queríamos trabalhar em cima das expectativas dos outros.” Eles também queriam evitar o termo “super grupo”, já que são duas bandas se juntando, não membros escolhidos cuidadosamente. “Nós não sentimos nenhuma afinidade com este termo”, bufa Alex.

Não era a intenção original, mas no final eles acabaram escrevendo material o suficiente para um álbum inteiro. Foi gravado no estúdio RAK, em Londres, em três semanas. A coisa toda foi, como eles dizem, incrivelmente fácil, como se eles já estivessem tocando juntos há anos. O único problema foi o forte sotaque de Glasgow de Paul Thomson, baterista do Franz, que Alex teve de traduzir para os Maels. E foi Thomson que sugeriu o nome. “Nós sabíamos que era engraçado, pois todos riram,” diz Russell. “Assim que Alex nos traduziu o que Paul havia dito, nós concordamos que servia perfeitamente.”

Houve muitas conversas durante o processo de gravação, sobre a situação da música pop, que todos concordam que é terrível. Ron, que não é nenhum tagarela, fica animado com o assunto. “É muito decepcionante,” ele suspira. “Eu acho que parte disto é porque estamos nessa há muito tempo, mas parece que o pop agora é medíocre. Há tantas possibilidades dentro do pop, forçando as coisas, mas ainda com relação às pessoas. Me deixa muito bravo o fato de as pessoas estarem fazendo isso pelas razões erradas. É insultante com relação ao que a música pop pode ser.”

Alex concorda: “Nós compartilhamos o amor ao pop, mas nós nunca tentamos fazê-lo da mesma maneira previsível que as pessoas ao nosso redor o fazem. Você corre o risco de passar batido, mas quando há conexão, meu deus, é fantástico. Isto resume o espírito deste álbum.”

FFS é uma reunião de almas aparentadas, com certeza, mas você também tem a sensação de que as duas bandas sabem que, neste momento, elas são mais interessantes juntos do que separadas. Se passaram cinco anos desde que o Sparks lançou o último álbum, enquanto o último lançamento do Franz, embora suficientemente bom, não conseguiu deixar uma grande impressão. É por isso que o Sparks e o Franz Ferdinand como entidades separadas estão na geladeira por enquanto. O FFS tem um verão cheio de shows pela frente, incluindo Glastonbury. Depois disto? “Não fazemos ideia,” diz Alex. “Quando nós começamos, não tínhamos a menor ideia do que ia acontecer. Esta é uma boa sensação para se ter sobre uma banda. Não saber qual será o futuro e não o ter mapeado para você. Vamos ver o que vai acontecer.”

Todos eles acenam em concordância. “Deixe o público falar!”, diz Russell. E Ron dispara: “E então nós os ignoramos”.

FLYING SPARKS – Um guia de Alex Kapranos sobre os melhores álbuns dos irmãos Mael

  • Lil’ Beethoven 2002 – “Eu adoro a faixa ‘The Rhythm Thief’. Ela mostra a progressão da banda se afastando daquilo ao que as pessoas os associava, que era música de pista de dança. Eles abandonam isto aqui e se concentram mais nas melodias.”
  • Gratuitous Sax & Senseless Violins 1994 – “Este tem a música que eu mais gosto do Sparks, que é “When Do I Get To Sing ‘My Way’”. É uma música bem dramática. Faz você querer dançar, tem uma melodia bem direta, mas também tem profundidade e complexidade.”
  • Angst In My Pants 1982 – “Eu amo ‘Sherlock Holmes’. É uma música enganosamente simples. Você não sabe de que nível ela vem, ou se é alguém cantando sobre Sherlock Holmes ou se é sobre o relacionamento entre duas pessoas.”
  • No.1 In Heaven 1979 – “O Sparks foi o precursor da dance music eletrônica. Eles trabalharam com Giorgio Moroder no final dos anos 70 e fizeram o tipo de música que era estranha para seus fãs. Eu fiquei surpreso quando eles me contaram que foi criticado severamente na época.”
  • Kimono My House 1974 – “O óbvio. Há poucas bandas afortunadas que têm uma música como ‘This Town Ain’t Big Enough For Both Of Us’, o tipo de música que muda o cenário. Eu sei que muita gente viu esta música no Top of the Pops e seus queixos caíram no chão.”

 

TRADUÇÃO: Cristina Renó, obrigada ;)

FONTE: NME Maio 2015 – Fotos de Ed Miles | Edição das imagens: Franz Ferdinand México e FFFBR

NMEMAIO2015CAPA NMEMAIO2015FFS1 NMEMAIO2015FFS2

Previous Post
Johnny Delusional, o primeiro single do F.F.S.!
Next Post
Um estranho caso de amor…