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Rank Your Records: Alex Kapranos classifica contemplativamente os LPs do Franz Ferdinand

O líder reflete sobre o sucesso inesperado da banda e o que significa “fazer discos que as garotas possam dançar”.

 

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Cam Lindsay | Feb 8 2018

No Rank Your Records, nós conversamos com artistas que já acumularam uma discografia substancial ao longo dos anos e pedimos que avaliem seus lançamentos em ordem de preferência pessoal.

Possivelmente ninguém estava mais surpreso com a ascensão meteórica do Franz Ferdinand em 2004 do que o próprio líder Alex Kapranos. “Eu sempre nos imaginei como uma banda esotérica antes de fazermos sucesso”, ele admite, pensando sobre o álbum de estreia da banda, o qual vendeu milhões e lançou o hit colossal, o que “Weird” Al fez um cover, “Take Me Out”. Mas praticamente da noite pro dia, o art rock à moda da banda de Glasgow foi bem recebido e de braços abertos pelo mainstream ao redor do mundo. Dentre todas as bandas por aí que combinavam guitarras afiadas e batidas 4/4 no final dos anos 2000, foi o Franz Ferdinand que tornou isso palatável para as massas.

Como resultado da adoração, eles levaram para casa o Mercury Prize e dois BRIT Awards, mas os escoceses não deixaram o sucesso interferir na sua arte. Nos quatro álbuns seguintes, eles continuaram conversando com o mainstream, enquanto elevavam sua música a novos níveis, incluindo uma versão dub completa do Tonight, de 2009, intitulada Blood e um álbum completo em parceria com os excêntricos do glam rock, Sparks, sob o nome FFS. Entretanto, em 2016, Nick McCarthy saiu da banda para passar mais tempo com a família e buscar outros interesses, deixando Kapranos, o baixista Bob Hardy e o baterista Paul Thomson com a decisão sobre o futuro do Franz Ferdinand.

“Antes de começar a turnê do FFS, nós sabíamos que o Nick iria sair”, diz Kapranos. “No primeiro momento foi um choque, mas depois eu sentei com Bob e Paul e perguntei: ‘Vocês querem continuar?’ E uma vez que todos responderam sim foi como, ‘Wow, ok. Isso significa que nós podemos fazer o que quisermos.’ Não porque o Nick não estava lá, mas porque os papéis já não eram mais fixos como quando ele estava na banda.”

O Franz Ferdinand continuou com quatro integrantes, com Julian Corrie substituindo McCarthy, mas foi essa liberdade que fez o novo álbum, Always Ascending, parecer uma nova tomada. “[Esse álbum] foi libertador, como se pudéssemos fazer o que diabos a gente quisesse”, ele admite. “E então quando finalizamos a gravação nós pensamos, ‘Então, diabos. Não somos nem oficialmente uma banda de quatro membros ou coisa do tipo. Podemos ser o que quisermos.” E então nós convidamos Dino [Bardot] para entrar na banda.”

Agora, com cinco integrantes, Kapranos enxerga Always Ascending como um novo capítulo para o Franz Ferdinand. “[De 2013] Right Thoughts foi o encerramento de uma década, e esse soa como o começo de uma nova década, o que é empolgante”, ele explica. “Nós estávamos na Europa fazendo coletivas de imprensa recentemente e um dos cara disse pra mim, ‘Esse parece como seu segundo primeiro álbum.’ Eu não concordo com ele, mas eu entendi o que ele disse porque é o primeiro álbum com essa formação. Tem esse novo frescor.”

Com essa atitude em jogo, a Noisey decidiu que era hora de dar a Kapranos o desafio do Rank Your Records, o qual ele aceitou, mas não sem nos avisar. “Poxa, isso é difícil pra caralho!”, ele expressou. “Eu vou me ferrar nisso completamente porque não consegui definir uma ordem. Eu tendo a não ouvir mais os nosso álbuns uma vez que eles já foram feitos. Também não sou um crítico muito bom.”

  1. You Could Have it So Much Better (2005)

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Noisey: Porque esse é o seu menos favorito?

Alex Kapranos: Mesmo sendo o meu favorito de várias formas, foi um álbum estressante de se fazer. Algumas das minhas músicas favoritas estão nesse álbum. E por mais engraçado que seja, algumas das minhas músicas favoritas são algumas que não tocamos ao vivo, como “Fade Together,” que eu amo demais. É tão diferente de tudo que nós fizemos até aquele ponto; é tão delicada e introspectiva. Esse provavelmente é o ponto alto.

Mas quando olho pra trás nesse álbum, a imagem que eu tenho na cabeça é a de voltar a uma macieira no final de julho/começo de agosto, e arrancar uma maçã que está completamente formada, mas que ainda falta um mês para estar madura. E quando você dá uma mordida nela, você tem algo como uma maçã bonita, mas que é amarga, ácida e intragável. Eu acho que essa é a melhor metáfora para descrever como eu me sinto em relação a esse álbum. Estava bom, mas não estava pronto. Ele foi arrancado da árvore muito cedo. Isso foi devido às circunstâncias. Nós não tínhamos tempo suficiente para deixar as músicas firmarem-se e para nos tornarmos confortáveis com elas e tocá-las de um jeito fácil e natural. Naquele tempo estávamos com a Epic Records na América, e eles estavam colocando muita pressão na gente pra terminar esse álbum rápido. Mas mais do que qualquer outra coisa, nosso agente tinha marcado uma turnê pela América. Uma vez que ela começasse, não teria nenhuma possibilidade de voltarmos para finalizar o álbum, além disso, eles queriam o álbum pra iniciar a turnê. Então tinha toda essa pressão pra ele ser finalizado. Meu maior arrependimento é o de não ter levantado pra todo mundo e ter dito, “Olha, eu só preciso de um pouco mais de tempo com essas músicas”. Esse é o motivo pelo qual ele é o meu número cinco.

Eu lembro ter ficado muito surpreso quando esse álbum foi anunciado. Veio tão rápido.

Nós estávamos compondo durante a turnê, as quais estávamos até tocando algumas músicas ao vivo em 2004, como “I’m Your Villain.” Estou culpando outras pessoas, mas eu também sou culpado. Tinham artistas como Bowie, The Smiths, e The Beatles que fariam um álbum, talvez até mais de um por ano. Eu pensei: “Por que eles podem fazer isso e nós também não? Claro que nós podemos!” O que eu não levei em conta é que essas bandas faziam turnê de um modo completamente diferente naquele tempo. Eles não faziam turnês tão intensas quanto as nossas. Em 2004, fizemos algo como 380 shows. Eu sei que parece loucura, mas em alguns dias nós literalmente estávamos fazendo dois shows por dia, como uma apresentação durante o dia numa loja e depois um show a noite. Honestamente, nós fizemos uma quantidade de shows maior do que a quantidade de dias do ano. E foi incrível. Eu amei. As coisas aconteceram pra gente instantaneamente ao redor de todo o mundo, em todos os lugares. Mas foi exaustivo e realmente sugou a minha alma. Eu deveria ter dado mais espaço e tempo a mim mesmo pra voltar à vida antes de fazer esse álbum.

Vocês eram bem desconhecidos quando fizeram o primeiro álbum. Quão diferente foi esse sabendo que haviam tantas pessoas antecipando isso?

Eu tentei me afastar daquilo, e fomos para um local bastante rural na Escócia, onde eu mantenho meu estúdio até hoje. Enquanto a intenção era de nos afastarmos, aquele mundo veio para o nosso mundo. Minha reticência era muito baixa pra criar uma barreira e repelir aquilo. Haviam jornalistas vindo para a casa, com o qual o pessoal da gravadora estava passando um tempo. Esses são os tipos de pessoa que você quer ao redor quando está criando.

Você chamou esse de “Uma versão 3-D do último álbum.” Você lembra o que quis dizer com isso?

Eu não faço a menor ideia. [Risos] Bem, sonoramente, nós exploramos coisas. Eu disse o que foi negativo sobre fazer esse álbum, mas também tiveram muitas coisas positivas. Eu curti gravar com o Rich [Costey], e de algumas formas existem partes que soam tridimensionais.

Eu acho que um outro motivo de ter colocado ele no número cinco é porque tudo é tocado muito rápido. Por causa da intensidade da nossa turnê e a forma como estávamos tocando, todo mundo estava cheio de adrenalina. O tempo de tudo estava rápido demais. Quando estávamos gravando, nós tocamos ao vivo na sala e sem os vocais porque eu não queria desgastar minha voz como eu fiz na turnê. Quando você toca sem o vocal, você tende a tocar no tempo que é bom de se tocar instrumentalmente. Ás vezes quando você ouve de novo o álbum, o vocal está 15 bpm mais rápido! Eu não conseguia encaixar todas as palavras. E a banda também não está respondendo ao vocal, o vocal está respondendo à banda, o que é o caminho errado.

Originalmente, esse álbum deveria ser auto-intitulado e com um esquema de cores diferente. O que fez você usar um título real?

Foi ideia do Paul. Eu ainda gosto desse conceito e acho que teria sido legal se tivesse continuado. A simplicidade disso é atraente. Mas um dia Paul disse que gostava do título You Could Have It So Much Better, então eu falei, “Por que não?” Tinha também uma perversidade porque haviam muitas expectativas sobre nós naquele tempo. Eu gostei da ideia de direcionar as expectativas para um lugar específico, confundi-las, e surgir com algo diferente em vez disso.

  1. FFS (2015)

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Eu tenho que colocar FFS [no número quatro], pra ser sincero, porque foi um álbum realmente divertido de se fazer. Eu gostei de estar no estúdio com todos aqueles caras, incluindo John Congleton. John é um cara muito legal e um grande produtor. Mas é o álbum que eu tenho a menor conexão pessoal. Quero dizer, ele realmente deveria ser o número cinco, mas eu estou tentando ser legal com com o Ron e o Russ.

Eu só consigo imaginar como esse cenário foi um sonho se realizando para vocês. Mas a ideia surgiu pela primeira vez dez anos antes de vocês fazerem o álbum?

Sim, isso mesmo. Eu gostava muito dos Sparks. Tem aqueles três primeiros álbuns dos anos 70 — Kimono My House, Indiscreet e Propaganda — que eu amava, assim como as coisas do Moroder. Quando o nosso primeiro álbum saiu, Ron e Russell estavam por dentro do que estávamos fazendo e apareceram em alguns dos nossos shows. E nós estávamos curtindo no backstage e eles falaram que queriam fazer uma colaboração. Originalmente iria ser um de sete polegadas. Nós iríamos escrever uma música pra eles tocarem, e eles iriam escrever uma pra gente tocar. Mas, voltando para 2004, era muito insano e intenso. Não tínhamos tempo pra fazer isso. E então estávamos em Montevideo, Uruguai, e eu quebrei meu dente. Eu segurei as pontas até voltar pra São Francisco para ir ao dentista. Eu estava perdido caminhando para cima e para baixo nessa rua de São Francisco procurando pelo dentista e, sem eu perceber, Ron, Russell e sua namorada Emmy estavam me observando pelo outro lado da rua. Eles me reconheceram. E então eles vieram, deram um tapinha no meu ombro e disseram, “Alex, o que você está fazendo em São Francisco?” Eu falei, “Estou indo ao dentista e vou fazer um show” E eles disseram, “Nós também vamos fazer um show hoje a noite. Por que vocês não aparecem pra nos ver?” Então nós fomos, e no backstage do show deles nós dissemos, “Por que não fazemos essa colaboração acontecer.”

Nós estávamos em turnê naquela época e eles estavam em Los Angeles, então, como um relacionamento por correspondência, as músicas eram enviadas via email. E então o álbum estava lá. Fazer a gravação no RAK foi muito divertido. Eu realmente gostei daquilo.

Algum de vocês tentou deixar crescer um bigode igual o do Ron?

Em diferentes pontos da minha vida eu tive um bigode, incluindo um bigode fino (pencil moustache), mas depois da colaboração com o Ron eu não acho que conseguiria chegar perto de ter um de novo. Esse é o território do Ron. Eu deixo o bigode pro Ron.

  1. Right Thoughts, Right Words, Right Actions (2013)

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Eu gosto desse. É um bom álbum. Eu realmente gostei de fazer ele. Também parece com um marcador, como o fim de uma década. Foi o fim do Mk 1 do Franz Ferdinand. Foi o último álbum daquela formação. Então eu gosto dele por essas razões. Não é o número um porque não é tão bom quanto os outros dois. [Risos] Minha música favorita desse álbum é “Stand On The Horizon”. Essa pra mim é o Santo Graal das canções, composições e apresentações, que é uma euforia melancólica (melancholic euphoria). É engraçado porque quando estávamos trabalhando nesse novo álbum, esse era o nome de trabalho: Melancolic Euphoria. Nós tivemos um outro também que era Sex & Death, porque todas as grandes músicas são sobre sexo ou morte ou ambos. E melancolia eufórica (melancholic euphoria) é um estado que você quer alcançar em uma música. Eu realmente acho que em “Stand On The Horizon” isso acontece. Também foi muito divertido trabalhar com Todd Terje nessa música.

Vocês trabalharam com Joe Gaddard e Alexis Taylor do Hot Chip, Todd Terje e Bjorn Yttling. Por que tantos produtores?

Eu acho que estávamos sendo ambiciosos. [Risos] Parte ambiciosos, parte práticos também. Começamos com Joe e Alexis, um pouco antes do Hot Chip começar a gravação do álbum deles. Então terminamos fazendo duas músicas juntos. Foi muito divertido trabalhar com eles. Sou um grande fã deles. Eles são adoráveis de se estar junto no estúdio; personalidades tão gentis. Nós gravamos essas canções e então pensamos que talvez essa fosse a abordagem que deveríamos seguir durante todo o processo de gravação para trabalhar com outras pessoas. Também foi legal trabalhar com Bjorn. Ele tem esse ótimo estúdio em Estocolmo. Infelizmente, a música que ambos queríamos trabalhar era “Scarlet and Blue”, que seria o grande single do álbum mas nós nunca conseguimos capturar ela de forma apropriada. Nós a gravamos duas vezes com Bjorn, uma com Mark Ralph, e uma nós mesmos, mas de alguma forma não conseguimos capturar a essência da música. Ela era de longe a música mais poderosa do álbum, mas eu meio que não pude gravar nenhuma das versões porque não estava bom. Eu não queria colocar uma versão inferior, o que é provavelmente um pouco absurdo em si mesmo. Nós conversamos sobre gravá-la de novo para esse álbum, mas só trouxe de volta muitas memórias ruins. Talvez em algum ponto no futuro. Nós a tocamos ao vivo um pouquinho em 2013.

Nick disse depois do Tonight, “Nós nos sugamos a seco”. Você sentiu que precisava de mais tempo para se recuperar antes de fazer esse álbum?

Nós definitivamente gastamos nosso tempo fazendo ele. Provavelmente mais tempo do que o necessário. Porque durante a produção desse álbum, Nick teve seu primeiro filho e nós não estávamos focados como deveríamos estar. Quando estou fazendo algo, eu gosto de fazer aquilo completamente. Então enquanto eu tenho boas lembranças de fazer esse álbum e o modo como ele soa no final, ele demorou mais anos do que o devido por conta das outras distrações na vida das pessoas. Não tem nada que você possa fazer sobre isso. É só o modo que o destino afeta você, e pronto. Eu não acho que estávamos secos. Teve um artigo que saiu na época desse álbum; era uma entrevista com o The Guardian ou com o The Observer. Durante a entrevista eu falei sobre como exaustiva a vida numa banda poder ser, mas então eu continuei dizendo como você tem que gostar de seguir o seu sonho e ser capaz de fazer o que você sempre se imaginou fazendo, e como isso é superado pela oportunidade que você tem. Sabe, apesar de ser cansativo, parecer ser ainda mais incrível. De todo modo, toda a última parte disso foi tirada da entrevista e acabou soando como uma lamentação terrível sobre como ruim era o nosso destino. Sim, o poder do editorial é bastante distinto, mas eu não estou reclamando. E o modo como descobrimos isso foi quando estávamos fazendo as fotos para o artigo, e o fotógrafo disse, “Vocês estão parecendo muito sorridentes. Podemos fazer algumas fotos que vocês estejam parecendo tristes? O editor acabou de me dizer que quer vocês parecendo tristes.” [Risos] Eu estava me sentindo muito bem com a vida naquele momento!

  1. Franz Ferdinand (2004)

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Por que esse é o seu segundo favorito?

Porque eu gosto mais do Tonight. [Risos] Eu amo esse álbum. Foi o que nos lançou como banda e nos introduziu ao mundo. Muitas pessoas nos conhecem por esse álbum, então é claro que eu amo ele. Também foi um acumulado de vários anos de pensamentos e composições que se juntaram para formar o álbum.

Eu acredito que o objetivo do álbum era “fazer discos que garotas possam dançar e ultrapassar a porcaria artificial.” Isso foi uma reação a alguma coisa que você estava testemunhando na música?  

Sim. [Risos]. Totalmente. Eu estava meio que fazendo uma piada quando disse isso. Na verdade, não – estava falando totalmente sério. Naquele tempo eu estava indo à shows em Glasgow e algo que notava era que 94 por cento da audiência era masculina. E eles só ficavam lá e se balançavam e alisavam a barba e super intelectualizavam a música que era rápida e óbvia pra caralho. Parecia pretensioso, como se não tivesse vida ou nitidez naquilo. Não havia nada da energia que eu amava. Não me dava vontade de levantar e ir dançar. Meu ideal para música era algo inteligente que me fizesse ter vontade de dançar. Também, tinha a natureza da divisão de gênero da audiência. Eu me lembro de conversar com minhas amigas naquele tempo, dizendo, “Por que vocês não estão nesses shows?” E todas elas diziam a mesma coisa: “Porque eles são chatos pra caralho.” E elas estavam completamente certas.

Existe um certo tipo de mentalidade que os homens têm quando se trata de música, que é usar a música como ferramenta de superioridade intelectual ou de conhecimento superior obscuro. Homens utilizam diferentes meios de mostrar essa superioridade. Música é um deles. Que porra de carro você tem também é outro. Como os caras da equipe de vendas de alguma corporação idiota em algum lugar, que conversam sobre seus carros do mesmo modo que caras em shows falam sobre tédio e bandas sombrias. Esporte é um outro. Caras que falam sobre porra de estatísticas esportivas e o que seus times andam fazendo. Oh cara, acho toda essa merda totalmente repulsiva e entediante. E eu desprezo totalmente essa forma de quantificar música. Era uma rejeição a isso. Era, “Não, eu quero retomar algo que é mais primitivo e abraçar a idiotice de fazer uma declaração como essa. Claro que dizer algo como “Eu vou fazer discos que garotas possam dançar” é voltar para o elemento básico da música pop. Como, se o início da música pop com Buddy Holly fosse música para garotas dançarem. Assim que você corta essa pretensão, então você pode expandir isso e explorar o que quiser. Então isso se tornou muito empolgante.

Você sentiu que estava em algo especial quando tocou o álbum pela primeira vez?

Sim. Eu não sabia que ele iria se conectar com as pessoas. Eu sabia, quando fizemos shows pelas primeiras vezes em Glasgow, que algo estava acontecendo, devido ao modo como as pessoas estavam reagindo. A gente não soava como outras bandas daquele tempo. Nós éramos diferentes. E elas eram boas músicas. Eu sabia disso. A energia era boa e honesta. O álbum em si foi na verdade um pé no saco de produzir por diversos motivos. E fico feliz de ter sido um pé no saco de produzir porque nos focou. Eu consegui me dar bem com os produtores de todos os outros álbuns, e foi uma alegria trabalhar com eles. Mas Tore Johansson foi um pé no saco de primeira classe pra caralho! Produtores se dividem em duas categorias: aqueles que alcançam seu objetivo se tornando parte da gangue, te encorajando e te guiando para criar algo ótimo, e então você tem aqueles que tentam conquistar os mesmos objetivos através de confrontamentos. Eu diria que Phil Spector está nesta segunda categoria. Ou Bob Erzin no estúdio com Lou Reed fazendo Berlin. Essa foi a categoria que Tore Johansson estava incluso. Nós não conseguimos nos dar bem. Lembro dele me puxando para a sala de controle do estúdio um dia e dizendo [em sotaque Sueco], “Um de nós vai sair deste estúdio em lágrimas.” E eu estava como, “Esse caralho não vai ser eu! Eu sei exatamente o que tenho que fazer.” E foi bom, porque ele tinha ideias muito diferentes do que o álbum deveria ser. Quando você tem alguém desafiando suas ideias, ou ele destrói suas ideias ou as faz se tornarem mais fortes. Você tem que defender suas ideias, e se elas forem boas, elas continuam de pé. Mas se for uma ideia de merda ela desmorona imediatamente. Então foi legal ter esse desafio. A ideia dele para o álbum era de torná-lo extremamente exuberante, em camadas com muitas texturas e partes. E eu disse a ele, “Olha, você pode colocar o que quiser na gravação. Mas quando for na mixagem eu vou tirar tudo na mesma hora.” E foi exatamente o que aconteceu. Em algum lugar por aí existe um disco rígido contendo uma versão muito diferente do nosso primeiro álbum. Mas eu não queria fazer um álbum como aquele. Eu queria que fosse forte, despido, sem frescuras ou enfeites. Tudo foi o som dessa banda tocando. E o conflito entre mim e Tore criou algo realmente ousado. Nós estávamos reagindo um contra o outro, e acabamos fazendo um álbum muito legal.

O que você lembra sobre ter ganhado o Mercury Prize?

Foi uma noite realmente bizarra e surreal quando tudo isso foi anunciado. Eu presumi, mesmo momentos depois de ter sido lido em público, que nós não iríamos vencer porque normalmente as bandas que ganharam estavam no final mais esotérico das indicações. Eu esperava que seria alguém com um sucesso muito mais longínquo do que o atual que nós estávamos. Suficientemente interessante, sempre tinha nos imaginado como uma banda esotérica antes de fazermos sucesso. Não vindo para o mainstream ou do mainstream, mas de um outro lugar. Sentia que não poderíamos ter ganhado aquele prêmio com o nosso sucesso no mainstream. Quando aconteceu, sim, só parecia bizarro. Lembro do Brian Eno estar lá, o que era bizarro. A coisa toda era bizarra. Todos aqueles prêmios são bizarros, porque você não pensa sobre nenhuma dessas merdas quando está fazendo álbuns. É ótimo. Eu estava pensando sobre isso outro dia. Todos esses prêmios, como o Mercury, o Brits, o Ivor Novellos, discos de platina, eu sempre dou eles para minha mãe. Eles são um pouquinho embaraçosos. Eu penso neles como elogios. É muito uma atitude de Glasgow em relação a elogios. Se as pessoas elogiam o povo de Glasgow, eles se sentem envergonhados. Eles não conseguem receber isso. Claro, é ótimo receber um, mas é difícil lidar com isso. Eu ainda sinto isso quando recebo um elogio ou um prêmio. Prefiro que minha mãe fique com eles. Ela os merece.

  1. Tonight: Franz Ferdinand (2009)

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Por que esse é o seu favorito?

Em alguns aspectos foi um pé no saco de se fazer. Existiam dificuldades na banda. Mas eu amo como selvagem e livre esse álbum foi. Eu provavelmente não colocaria Tonight como número um até ter conversado com o Julian [Corrie] sobre ele. Quando ele entrou na banda, não tínhamos falado sobre a nossa discografia até ele ter estado na banda por um seis meses ou mais, e então começamos a ensaiar para os shows. Foi quando estávamos ensaiando “Ulysses” que ele disse, “Ah cara, eu amo essa música. É uma música estranha, tão estranha.” E eu respondi, “Sim, eu acho que é. Não é uma música pop convencional de nenhum modo.” E então ele admitiu, “Tonight é de longe o meu álbum favorito que vocês fizeram.” E conversando com ele sobre como ele gostou daquele álbum acima de todos os outros realmente me fez reavaliar aquele álbum e pensar mais sobre ele. Eu acho que ele está certo. Até agora, eu acho que o Tonight foi a nossa fase mais aventureira. Nunca achei que fomos uma banda convencional, mas eu acho que esse foi o nosso álbum mais inconvencional. Ele vai a lugares bastante bizarros.  

O som desse álbum também é bonito. Eu amo o que Dan Carey fez. Mas também acho que o amo porque atrai o meu senso de contrariedade. Quando estou falando sobre fazer músicas que façam garotas dançar, no fundo é um senso de contrariedade. Quando lançamos o Tonight, muitas pessoas ficaram confusas com ele e não estavam esperando aquilo. Aquilo me trouxe muita alegria porque a pior coisa na vida é ser previsível, né?

Você descreveu ele como ”um álbum muito noturno.”

Oh, eu não faço ideia do que quis dizer com isso. Sabe, quando você faz um álbum então você tem que falar sobre ele depois. Você aparece com essas frases que resumem tudo. Foi um álbum noturno de algum modo. Mas não é como se toda música fosse sobre a noite. Eu soube disso quando estávamos sequenciando, nós estávamos tentando dar um tipo de sentimento de uma noite fora. Suponho que foi uma parte disso. No estúdio que tínhamos em Govan, era necessário cobrir todas as janelas, para dar permanentemente o sentimento de noite. Talvez a época do ano que estávamos fazendo também era escura. Glasgow pode ser escuro pra caralho no inverno.

Originalmente vocês tinham em mente o Brian Higgins do Xenomania (S Club, Girls Aloud, Kylie Minogue) para produzir o álbum. O que aconteceu?

Não deu certo. Nós éramos completamente incompatíveis para trabalhar um com o outro. Brian Higgins está na mesma categoria que Tore Johansson, mas não de um jeito bom. [Risos] Ou pelo menos, não de um jeito que funcionasse para nós, para ser justo com o Brian. Porque funcionou pra ele com outros atos. Ele costumava dizer às pessoas o que elas precisavam fazer, como quais músicas cantar e como elas deveriam fazer isso.

Eu adoro o que ele fez com Girls Aloud.

Sim! O trabalho dele com Girls Aloud foi o que nos levou a ele. Ele tem uma equipe ao redor dele que fez coisas realmente muito boas. Eu adoro isso. Na época, o modo como eu vi para nós trabalharmos com o Brian teria sido algo como a razão pela qual John Lennon achou atraente trabalhar com Phil Spector, que foi pelo auge que ele era no jogo pop daquela época. E foi o que o Brian era: o mestre do pop. Teria sido completamente como por a pistola ao lado da cabeça se tivéssemos continuado. Simplesmente não era uma boa combinação.

Vocês também lançaram uma versão dub do álbum chamada Blood. De onde veio essa ideia?

Foi do Dan Carey. Pular de um extremo ao outro. De fato, se eu pudesse, eu classificaria o Blood como o meu álbum favorito. Porque Blood e Tonight são o mesmo álbum… mas não são. Tonight é um álbum selvagem e aventureiro, mas Blood é o mesmo álbum levado ao extremo mais selvagem e aventureiro. Isso foi o Dan pegando o que nós tínhamos feito e enlouquecendo pra caralho ao dobrar isso e fazer soar como algo que nunca tínhamos feito antes. Então minhas versões favoritas de algumas daquelas músicas estão no Blood.

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FONTE: Noisey – Rank Your Records | Tradução e agradecimentos: Hinessa Caminha

 

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