15 49.0138 8.38624 1 0 4000 1 http://franzferdinand.com.br 300 true 0
theme-sticky-logo-alt

Franz Ferdinand: “Até mesmo os Beatles experimentaram diversas fases e novos retornos”

0 Comments

Por ocasião da promoção do seu mais recente álbum, Right Thoughts, Right Words, Right Action, Alex Kapranos e Nick McCarthy estiveram em Paris.

 

promortrwra

por Elvire von Bardeleben

Pode-se considerar 2013 como o “ano vintage”, diante do retorno dos astros do rock da década de 2000? Parece que sim. Depois do lançamento do novo cd dos Strokes em março deste ano, agora é a vez da banda Franz Ferdinand brilhar em virtude do lançamento do novo álbum. Trinta e cinco minutos de puro pop-rock, sem a influência da música eletrônica que caracterizou o cd antecessor, Tonight (2009). Sobre Right Thoughts, Right Words, Rght Action (lançamento pela Domino/Sony em 26 de agosto), os escoceses invocam a leveza e a ingenuidade que marcaram o álbum de estréia.

O vocalista Alex Kapranos e o guitarrista Nick McCarthy estiveram de passagem por Paris no início de junho. No calor escaldante, encontramos os dois escoceses apreciando chá quente num bar localizado no nono distrito [1]. Ao longo da entrevista, Nick mal se pronunciou. O simpático vocalista disse que a vida de roqueiro é árdua (foi impossível não notar nos fios grisalhos contrastando com o cabelo loiro do vocalista de 41 anos).

Tonight foi lançado há quatro anos. O que vocês fizeram ao longo deste tempo?

Alex Kapranos: Viajamos em turnê por dois anos. Produzi os álbuns do Citizens! [2] e RM Hubbert [3]. Nick fez teatro… Finalmente, no verão passado, iniciamos o processo de elaboração do novo álbum, por meio do qual utilizamos um método bastante peculiar que consistia em compor duas ou três músicas, gravá-las e, em seguida, uma breve pausa e assim sucessivamente.

Com que objetivo vocês se utilizaram desse processo criativo?

Alex Kapranos: Esse processo que nós utilizamos permite que essa fase (composição e gravação) se torne fresca e leve e não uma obrigação. Em geral, as idéias surgem quando você está fora do estúdio, principalmente quando estamos em contato direto com as pessoas. A maioria dos grupos ficam bloqueados no estúdio por um longo tempo para criar um álbum e, em seguida, partem direto para a turnê. Essa idéia me deixa claustrofóbico.

O resultado deste álbum é bem diferente de Tonight…

Alex Kapranos: Em Tonight, estávamos à procura de um certo humor, um groove. O que nos importava em Right Thoughts, Right Words, Right Action era criar um som eficaz, um tipo de música que pode ser encontrado nos manuais para aprender a tocar guitarra.

Tonight foi construído sobre o tema da noite. O fio condutor deste novo álbum é menos obvio.

Alex Kapranos: Verdade, queríamos mudar. Em Right Thoughts… Certo, aqui não há um tema central apesar de algumas músicas, por vezes, se encontrarem. O desempenho unifica tudo, mas as idéias são díspares.

Em certo sentido, Right Thoughts… está perto o suficiente do primeiro álbum, Franz Ferdinand (2004)

Alex Kapranos: Essa pausa nos deu a oportunidade de reaprendermos como se toca juntos, de buscarmos a ingenuidade que existe no início de uma banda e que se perde ao longo dos anos. Diante disso, concordo que nosso novo álbum se aproxima do álbum de estréia. Não há nada pior no mundo do que um álbum cínico. Se um artista encontra-se entediado, ele encara todo esse processo como uma obrigação, e não a simples paixão pela música. Ouvimos tantas bandas hoje em dia que dizemos “Vocês não tiveram bons momentos juntos”.

Quais bandas?

Alex Kapranos: Eu não vou citar nomes!

O que significa o título Right Thoughts, Right Words, Right Action?

Alex Kapranos: Cada um pode ter uma opinião diferente a respeito, aquilo que lhe cai bem. Uma canção deve fazer uma pergunta, e não apontar uma resposta. Em todo caso, há uma conotação positiva, que corresponde ao nosso estado de espírito.

Nas canções, você diz ser o rei dos animais ou o morango jovem. Qual o motivo do uso dessas metáforas?

Alex Kapranos: (risos). A canção Treason Animals! descreve uma situação de isolamento e, diante disso, perdemos o senso de realidade. Essa assertiva passa ser correta já que não há ninguem para contradizer. Em Fresh Strawberries, há uma metáfora sobre a morte: um jovem morango que inevitavelmente irá apodrecer. É duro pensar que somos um bando de carne em decomposição, para nos tranqüilizarmos, passamos a acreditar no cosmos.

Você é cristão?

Alex Kapranos: Mesmo os homens ateus querem acreditar que há um poder superior. Isso faz com que a morte se torne mais doce.

Você pensa sobre a morte?

Alex Kapranos: Às vezes. Além disso, a canção Goodbye Lovers and Friends foi inspirada na morte de um de seus presidentes, François Mitterand. Li que em seu funeral houve a reunião de pessoas que nunca teriam se conhecido em outro contexto: sua esposa, suas amantes, políticos, desconhecidos…

Você inicia esta canção dizendo “não toque música pop” …

Alex Kapranos: Fui a um funeral nesse inverno em que a oração fúnebre foi acompanhada por uma música pop. A pior idéia possível.

Qual música você gostaria que fosse tocado em seu funeral?

Alex Kapranos: Nunca pensei a respeito. Provavelmente “A marcha fúnebre”, de Chopin.

Você escuta música clássica?

Alex Kapranos: Não sou esnobe, gosto de música bem feita, de Stravinsky à Ramones. Eu tenho mais respeito pelos artistas de hip-hop e R&B que, em geral, possuem uma cultura musical bem mais variada do que os “aiatolás” da guitarra, que entendem ser o rock o melhor estilo musical. Aqueles que ainda são capazes de dizer “o Velvet Underground não é ruim, mas Lou Reed sozinho, que curtição”.

O Rock teve sua revitalização nos anos 2000. Hoje ele não anda muito legal, certo?

Alex Kapranos: Quando começamos, em 2002, havia muitas bandas bacanas como The White Stripes e The Strokes, nos Estados Unidos, e nenhum grupo na Inglaterra, exceto The Libertines… Até mesmo o os Beatles experimentavam diversas fases e novos retornos. Tal situação é crônica, um dia [o rock] vai voltar.

A tendência é combinar guitarras com som eletrônico ou produzir um som deliberadamente sujo?

Alex Kapranos: O uso de sintetizados ou som lo-fi [4] decorre de um simples motivo: os músicos estão criando suas canções em casa. Por sorte, em Londres, os artistas novamente querem fazer parte de uma banda, como so últimos grupos brilhantes que eu vi tocar: Parquet Court [5], Amazing Snakeheads [6], Mazes [7]. De qualquer maneira, em todos esses exemplos, a melodia prevalece sobre os instrumentos e arranjos. Oblivion, de Grimes [8] é um sucesso pois se trata de uma canção que te deixa confortável. Por sua estrutura, poderia ser um trabalho das Shangri-Las [9] ou de qualquer outro grupo de garotas dos anos 60. A evolução do Daft Punk é relevador: depois de explorarem as máquinas, eles voltam com um álbum ligado aos seres humanos, com cantores reais.

Você gostou do álbum?

Alex Kapranos: Eu estou cansado de tentar explicar, não de ouvi-lo [o álbum].


[1] Paris é dividido em distrito ou bairros. O 9° distrito é marcado pela intensa agitação noturna e grande quantidade de bares e restaurantes.
[2] Banda indie inglesa. Tocaram no Brasil esse ano no festival índie gaúcho MECA festival.
[3] Cantor e compositor escocês.
[4] estilo de gravação musical, caracterizado pelo uso de técnicas de baixa fidelidade. Sua aplicação nasce diante das limitações financeiras do artista. O termo foi criado por um DJ que, no final da década de 90, dedicava meia hora do seu programa numa rádio para exibir gravações caseiras. O estilo é amplamente usado na música experimental e no trip hop. Fonte de consulta: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica_Lo-fi.
[5] Banda americana de punk rock originária do Brooklyn, NY, em 2010.
[6] Banda underground de Glasgow.
[7] Banda de rock inglesa, formada em Manchester, em 2007.
[8] ou Claire Boucher, é uma cantora canadense. Observa-se em suas canções a combinação atípica de elementos vocais, bem como uma grande variedade de influências variando de industrial e eletrônica para pop, hip hop, R&B, noise rock, e até mesmo música medieval.
[9] Grupo feminino criado nos anos 60, formado por dois pares de irmãs. A temática das músicas era marcada pelo melodrama contido nas suas letras que em geral relatavam histórias sobre relacionamentos que não deram certo e corações partidos.

 

 FONTE: Next Liberation / Tradução: Thalita Perantoni

Previous Post
Franz Ferdinand rompe tudo e começa novamente – entrevista do Alex para a Rolling Stone [Traduzida]
Next Post
Feliz aniversário Andrew Fucking Knowles!

0 Comments

Leave a Reply