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Revista BLITZ: Franz Ferdinand uma banda nova – parte 2

Segue a segunda parte da entrevista da revista portuguesa BLITZ! 😉
Franz Ferdinand - PC David Edwards - launch shot -300 dpi

[…]

Apresentaram este novo disco com um concerto numa pequena sala, em Paris. Para uma banda habituada a tocar em grandes recintos, como é a experiência de voltar a esses clubes?
AK – Eu adoro tocar em salas mais pequenas, é ótimo. Antes de tocarmos ali, tínhamos tocado em Espanha, para umas 40 mil pessoas. Faz-me lembrar… Certa vez, estava na América e fui a um jogo de basebol. Alguma vez foste a um jogo de basebol?

Não…
AK – Não vás, é mesmo chato! Chato ao nível do críquete. Mas uma coisa que achei fascinante é que, quando os tipos vão bater na bola e estão a dar lanço aos tacos, têm ali uma coisa… Eu perguntei ao meu amigo americano e ele disse que, pelos vistos, eles põem um peso no taco. Então balançam o taco com o peso e assim batem na bola com mais força. E às vezes tocar numa sala mais pequena é assim. Estás tão habituado a projetar energia para 40 mil pessoas que, quando tocas para 200, parece que estás a explodir!

Um mágico sucesso

Mal o primeiro disco de Franz Ferdinand saiu, em 2004, obtiveram um grande sucesso e, desde então, têm tocado para grandes plateias. É um nível de sucesso difícil de manter?
AK – Não me vou queixar! Não vou incorrer em falsa modéstia e fingir que não foi espetacular que tenha acontecido assim, porque claro que foi! E claro que talvez haja algumas dificuldades relacionadas com ter um certo nível de sucesso mas, fogo, prefiro ter essas dificuldades do que as dificuldades que decorrem de tocar numa sala para 20 pessoas.

Sim, mas foi difícil manter sempre esse nível? Sentiram muita pressão?
AK – Não, de todo! Bem, talvez as outras pessoas tenham expectativas, mas sempre fiz por ignorá-las. Além disso, eu já tinha 32 anos quando esse álbum foi lançado, e devo ter começado a escrever canções aos 14. São 18 anos a tocar para salas com dez ou vinte pessoas. Qualquer tipo de sucesso seria sempre mágico, porra. (risos)

Ficou surpreendido, na altura, com o sucesso imediato da vossa estreia?
AK – Fiquei surpreendido por não ter acontecido antes! (risos)

E foi bom ter acontecido quando já tinha 32 anos?
AK – Sim, ainda bem que já estava nos meus tritas quando isso aconteceu. Se tivesse tido esses sucesso aos 15, ter-me-ia tornado num autêntico palhaço! Ainda mais do que já sou. Assim puder ver como é a vida real e não me sinto privilegiado se for adulado, como por vezes acontece com quem tem bandas. E ainda hoje, se me vão buscar a algum lado e me querem levar a mala, eu fico: <<não faças isso, deixa-me levar a minha própria mala!>>.

Julian, quantos concertos já deu com os Franz Ferdinand?
JC – Ainda outro dia estava a pensar nisso! Penso que foram uns 50 ou 60. Fizemos uma digressão na América em maio e junho, depois demos uns concertos na Europa e agora vamos voltar para a América. A digressão norte-americana foi muito divertida. Quando perguntaste como é tocar nas salas mais pequenas – nos Estados Unidos tocamos habitualmente em salas mais pequenas, e tive aquela sensação que o Alex descreveu: muita pressão, não em termos de stress, mas no sentido de darmos um concerto mais concentrado, mais intenso.

Estiveram nos Estados Unidos já depois de Donald Trump ser eleito?
JC – Sim, é curioso – tocámos em Charlottesville pouco depois dos motins e da parada das tochas e essa treta toda. O Alex descreveu muito bem a sensação que tivemos lá: sabes quando um miúdo vai a correr pela rua e cai e magoa-se, e há ali um intervalo entre magoar-se e perceber o que aconteceu e começar a chorar? São ali uns dois segundos em que o miúdo pensa: <<o que é que acaba de acontecer?>>. E depois lá vêm as lágrimas. Foi isso que aconteceu com o país. Quando lá estivemos, as pessoas estavam num certo estado de choque, sem terem percebido bem as consequências. Acredito que, quando voltarmos agora, possa ser diferente.
AK – Estão quase a chegar ao ponto de libertarem o uivo primitivo da angústia, como a situação justifica.

Muitos norte-americanos nunca acreditaram verdadeiramente que Trump iria vencer as eleições…
AK – Nem o próprio tolo cor de tangerina [no original, <<tangerine buffoon>>]! Não viste a cara de choque dele, no dia das eleições? Que deprimente. Eu mantenho a minha sanidade mental imaginando que, no fundo, estou a participar num qualquer filme blockbuster americano. E, como em qualquer blockbuster americano, há a parte em que se explica o enredo, o caos, o ponto mais baixo e a conclusão, em que o tolo cor de tangerina aparece de fato cor de laranja [uniforme das prisões nos Estados Unidos] e de algemas. E começam a passar os créditos. Eu só estou à espera desse momento.

Os créditos e a música épica…
AK – E nós fazemos a banda-sonora, exato! Boa, é isso mesmo! (gargalhadas)

E no Reino Unido, qual é a vossa opinião sobre o momento político? Onde vivem atualmente?
AK – Eu vivo entre a Escócia e Londres.
JC – Eu vivo na Escócia.
AK – De certa forma é frustrante. De certa forma, os americanos têm mais sorte. Porque estamos em situações igualmente traumáticas. Nos Estados Unidos, pelo menos têm uma figura forte para poderem desprezar. Na Grã-Bretanha, nem isso temos. Porque a Theresa May é apenas incompetente. Não tem personalidade!

Não é uma vilã?
JC – Não tem força de caráter ou força de vontade suficientes para poder ser uma vilã. Ao menos que o Trump é fiel à sua idiotice.
AK – Exato, é verdadeiramente desprezível. Já a Theresa May não é nada, é só um conglomerado anónimo de personagens desprezíveis, o que torna tudo mais frustrante. Mas saudável não é, o que se vive hoje no Reino Unido.
JC – E é embaraçoso, também. Quando saio do país, sinto um pouco de vergonha pelo país, o Brexit e isso tudo.
AK – É como teres o teu tio racista a andar atrás de ti para todo o lado! o Brexit é isso. O Brexit e toda a gente que votou a favor.

Acham que as bandas poderão ter a sua vida dificultada, durante as digressões, depois de o Brexit ser concretizado?
JC – Mas nós nem sabemos! Uma das coisas mais revoltantes é o plano ser pavoroso porque, à semelhança do Trump, que não esperava chegar ao poder e não sabe o que está a fazer, os defensores do Brexit também não esperavam ganhar e agora não sabem como agir. E é por isso que a Theresa May fez campanha pelo <<remain>> [defendendo a permanência do Reino Unido na União Europeia]. E depois tornou-se primeira-ministra!
AK – Fez campanha, mas discretamente. Porque é uma oportunista. Não tem qualquer base de convicções. Mas penso que se tornará difícil para algumas bandas em digressão, sobretudo para as mais pequenas, que têm menos dinheiro. Porque vai haver mais burocracia. Quando vamos tocar aos Estados Unidos, por exemplo, temos de preencher um formulário e declarar todos os instrumentos que levamos conosco. Tem de ser tudo inspecionado, porque não estamos ao abrigo de um acordo como na União Europeia. Mas se tivermos de fazer isso em todos os países da Europa a que formos, fica caro! Demora tempo e torna as digressões muito complicadas. Por isso, sim, o Brexit vai ter um efeito a nível prático. Além de que as pessoas vão estar tão irritadas com a Grã-Bretanha que já nem vão querer ver-nos. << Vão lá comer o vosso bangers and mash [salsicha com puré, prato comum em Inglaterra], seus palhaços…>>.

Sardinhas & Streaming

De regresso ao disco novo: qual a vossa canção favorita, de momento?
AK – Neste momento, a minha favorita é a <<Lazy Boy>>. Porque, sempre que a ouço, gosto mesmo muito. Foi divertida de se fazer e é uma execução muito bem-sucedida de uma ideia. Tenho muito orgulho da evolução da canção, das demos até àquilo que é agora.

Mas era muito diferente do que está no disco?
JC – Era muito mais comprida! Começou com um loop, e o ritmo é muito esquisito, cinco beats em vez de quatro. Tínhamos ali um loop que íamos tocando e gostávamos, depois escrevemos o refrão… no início tinha seis minutos, parecia uma faixa tecno. Ao fim de algumas semanas, fomos cortando. Podemos tirar aqui uma parte, ali outra… Ironicamente, embora se chame <<Lazy Boy>> [<<rapaz preguiçoso>>], deu muito trabalho a fazer.
AK – É a mais fácil de ouvir, mas foi a mais difícil de fazer. Também gosto dessa. Não sei bem qual a minha canção favorita do álbum – vai mudando, sempre que penso nisso. Talvez a <<Slow Don’t Kill Me Slow>>? Gosto da atmosfera dessa canção e, de um ponto de vista mais pessoal, gosto muito da forma como a canto. Saiu-me de forma muito natural e expressiva e emocionalmente honesta, que é algo que tenho tentado alcançar. Como disse antes, com este disco estávamos a tentar fazer algo de novo: uma nova banda, uma nova identidade, um novo som. E, em parte, isso passa por obrigarmo-nos a fazer coisas que nunca fizemos. Neste disco, tentei mesmo levar a minha voz a sítios onde ela nunca tinha ido antes, e isso pode ser feito de forma sutil. Quis explorar aquela ideia de <<ator de método>>; perder-me no papel e na emoção da canção, para poder acreditar e senti-la ao máximo. Penso que essa canção é o melhor exemplo dessa abordagem, neste disco.

O primeiro single, <<Always Ascending>>, é uma canção longa, com uma intro demorada… numa época em que se diz que os serviços de streaming mataram as intros longas!
AK – Pois é, está tudo a falar de como o streaming matou as intros compridas e cá está a nossa primeira canção com uma intro de um minuto! (gargalhada)
JC – Nós gostamos de contrariar as tendências! (risos) Mas até faz algum sentido. Se alguém estiver a fazer alguma coisa, achamos divertido fazer o seu oposto.
AK – Ser do contra. Sempre foi um princípio basilar da minha vida: ser do contra, o mais possível! Se quiseres ir até aos teus limites tens de ser do contra.
JC – E também achámos que a << Always Ascending>> era uma boa súmula das coisas que estávamos a tentar fazer no disco. E é uma grande canção, que queríamos que as pessoas ouvissem.

Quando anunciaram o novo ábum, e também a digressão de 2018, os vossos fãs reagiram com muito entusiasmo. Ficam satisfeitos por poderem contar com o apoio de admiradores tão dedicados?
AK – Eu devo confessar: sinto um grande carinho pelos nossos fãs e pelo apoio que eles nos têm dado ao longo dos anos. Temos imensos clubes de fãs e grupos de pessoas em todo o mundo que ficaram sempre do nosso lado, ao longo dos anos. Temos muita sorte. Porque há bandas cujos fãs… são uns anormais! (risos) Não vou dizer quais, mas há. Quando falamos com os nossos fãs, eles costumam ser muito fixes. Temos essa sorte.

Em 2018, vão andar na estrada e, se tudo correr como é costume, voltarão a Portugal…
AK – Quando perguntaste ao Julian quantos concertos ele já deu conosco, pensei logo: quando chegarmos a Portugal, no próximo ano, vamos estar no ponto! (risos) Já vamos saber tocar estas canções. Sei o que está a ser negociado, mas ainda não posso dizer onde vamos tocar [confirmar-se-ia depois que a banda atuará no NOS Alive]. Mas, se tudo correr bem, daremos em Portugal mais do que um concerto.

Que recordações guarda das vossas anteriores visitas a Portugal, onde já atuaram quase uma dezena de vezes?
AK – Adoro ir a Lisboa. Tenho aí um velho amigo de Glasgow, Tracy, – olá, Tracy! Se me estiveres a ler, até breve! – e no Porto, em especial, diverti-me muito. Aluguei uma bicicleta e andei a passear pela cidade, junto ao Douro. É um país muito bonito, com ótima comida. A minha melhor experiência gastronômica em Portugal foi das mais simples. Se fores da baixa do Porto até à Ribeira e virares à direita, no porto dos pescadores, naquela parte mais industrial, há uma ruazinha, que nem é nada turística, onde há uns restaurantes onde cozinham o peixe em grelhadores a carvão, muito simples. E as sardinhas assadas ali, meu Deus! É simples, direto e belo! Só de estar a falar nisso já estou a salivar. Mal posso esperar por voltar.

A

FONTE: Revista BLITZ (Portugal) janeiro 2018 | Agradecimentos: Raquel Custódio pelos scans da revista!

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