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Franz Reunido | Q entrevista: Franz Ferdinand – 1ª parte da matéria, Revista Q 10/2013 [Traduzida]

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Traduzimos mais uma entrevista com o Franz, agora na revista Q.
Primeira de duas partes. A segunda estará no site em breve.

Tradução e agradecimentos: Cristina Renó

HÁ DOIS VERÕES, ALEX KAPRANOS CONVOCOU UMA REUNIÃO PARA RESOLVER A CRISE DO FRANZ FERDINAND: ELE QUERIA SEPARAR A BANDA. AGORA, ELES ENTREGAM SEU MAIS FORTE LP ATÉ A DATA. A Q VIAJA PARA NOVA YORK PARA DESCOBRIR O QUE ACONTECEU.

POR DORIAN LYNSKEY

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É uma tarde de segunda-feira nos consagrados, porém gastos, corredores do Ed Sullivan Theatre em Nova York, o lar do Late Show With David Letterman. O Franz Ferdinand está aqui para iniciar uma blitz de uma semana promocional para seu quarto álbum Right Thoughts, Right Words, Right Action. Apesar de sua duradoura propensão a camisas elegantes e calças justas, o vocalista Alex Kapranos, o guitarrista Nick McCarthy, o baixista Bob Hardy e o baterista Paul Thomson estão longe de serem os convidados mais glamourosos desta noite. Cate Blanchet passa, proibitivamente elegante e serena, como um fabuloso híbrido de humano e cisne. “Ela é aquela do Titanic?”, pergunta Kapranos, equivocadamente.

Esta é a quarta apresentação do Franz Ferdinand no Letterman. “A primeira vez que tocamos aqui, ele chegou e disse ‘Bem-vindos ao nosso país’”, relembra Kapranos. “Era como se ele estivesse falando com marcianos”.  Ele cutuca o forro do teto no camarim para encontrar uma cápsula do tempo que a banda escondeu lá em cima, mas o forro foi vedado desde então, tornando esse fragmento do passado irrecuperável.

Isto foi em 2004, quando o Franz Ferdinand era a banda mais afiada e inteligente do rock britânico em anos: a resposta espirituosa dos britânicos à The Strokes, herdeiros da Roxy Music, Orange Juice e Pulp; cérebro art-rock com quadris de disco. Seu autointitulado álbum de estréia vendeu 3,6 milhões de cópias no mundo inteiro e venceu o Mercury Prize. Nos Estados Unidos, o Franz obteve sucesso onde o Britpop fracassou: o LP ganhou disco de platina e seu hino não convencional Take Me Out bateu Jay-Z e Usher chegando ao topo da prestigiada enquete anual de críticos, a Village Voice.

Foi um primeiro ano tão perfeito quanto qualquer banda poderia desejar, mas a perfeição é difícil de manter. Enquanto seu segundo álbum You Could Have It So Much Better apareceu apenas 18 meses depois, o pouco convincente Tonight: Franz Ferdinand não surgiu até 2009, altura em que o boom das bandas britânicas com guitarras que eles haviam encabeçado já estava implodindo. Aparentemente, eles pareciam nadar contra a maré. Internamente, como a Q descobrirá, eles estavam se afogando.

Desde o título, Right Thoughts, Right Words, Right Action, indica um retorno a seu foco e precisão inicial. Kapranos é modesto à respeito da origem do título, mas parece ser uma paráfrase cheia de vida de três passos do Nobre Caminho Óctuplo para o Nirvana, de Buda. Não é um mau lugar para buscar conselhos.

De pernas cruzadas num sofá em sua suíte de hotel no Lower East Side na manhã seguinte, Kapranos é tanto educado quanto reservado, uma combinação que significa que ele continua evitando perguntas e se desculpando por ser evasivo. Ainda inacreditavelmente esbelto e elegante aos 41 anos, o homem que parecia tão suave e dominante no Letterman é um entrevistado agitado, fechando os olhos repetidamente, despenteando seu cabelo e colocando a cabeça entre as mãos. “No palco sou um exibido, mas na vida normal sou exatamente o oposto”, ele diz. “Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de chamar atenção para si mesma.”

Nos dois últimos LPs, no entanto, ele sentiu que sua reticência sabotou suas composições – “Você está ocultando essas letras pessoais em distrações e referências obtusas para fazê-las confissões tão incompreensíveis quanto elas podem ser” – então ele está tentando, contra seus instintos naturais, ser sincero. Enquanto ele explica como o álbum começou com uma reunião com Bob Hardy na ilha de Orkney há dois verões, Q tem a sensação de que ele está omitindo alguma coisa. Ele alguma vez perdeu a fé na banda?

Ele torce o rosto e ri nervosamente. “Vou ser diplomático ou vou ser honesto?”

Honesto, por favor.

“Eu fui até Orkney dizer ao Bob que eu queria acabar com a banda.”

Antes do Franz Ferdinand ser uma banda, era uma ideia fantástica para uma banda. Quando Kapranos e Hardy estavam trabalhando juntos na cozinha de um restaurante em Fort William em 2000, eles ficavam se queixando sobre as músicas da Radio 1 e então, ao final do turno, conversavam sobre os discos que eles realmente amavam e o tipo de banda que eles gostariam de ver: uma que encontrasse o olhar do público, que expressasse emoções intensas, combinasse a urgência do pop com a vitalidade experimental e se vestisse para matar. “Nós conversamos sobre toda essa merda antes mesmo de ter feito um álbum”, diz Kapranos. “Estas aspirações sobre o que faz uma banda ser ótima ao invés de apenas um bando de caras tocando música juntos.”

Kapranos tinha 28 anos e sentia que talvez fosse tarde demais. Quando adolescente em Glasgow, ele cresceu completamente apaixonado por prodígios condenados como Buddy Holly e o poeta da guerra Rupert Brooke. “Eu me lembro de completar 21 e ficar mal durante as semanas seguintes: ‘Tenho 21 anos e não fiz nada! ’”, ele conta, rindo de sua própria juventude.

Ele sentiu que tinha estragado suas chances de vez quando sua primeira banda de verdade, The Karelia, foi largada pela Roadrunner depois de um álbum decepcionante em 1997. “Nesta época eu estava com 27 e achei que tinha perdido a chance”, ele diz. “Se você está fazendo para ter algum sucesso você deve tê-lo feito po essa idade. Então eu mudei minha perspectiva. Nós estávamos fazendo (o Franz Ferdinand) puramente para nos divertir. Não havia desejo de obter sucesso. Nós achávamos que venderíamos 500 cópias do single, pois era isso que as bandas que conhecíamos vendiam.” Paul Thomson relembra, “Nosso empresário disse ‘Eu realmente vejo potencial do Pulp/Stone Roses’. Eu pensava ‘Cale a boca!’”.

O Franz Ferdinand se juntou, em 2002, de maneira pouco ortodoxa. Thomson, o único escocês nativo, era um baterista que queria ser guitarrista. McCarthy (que, como Thomson, Kapranos havia conhecido em uma festa) tinha estudado piano e contrabaixo no Conservatório de Munique, mas nunca tinha tocado guitarra antes. Hardy, um ‘não-músico’ que estava estudando na Glasgow School of Art, concordou sob coação a aprender tocar baixo. “Foi tudo na base da intuição por dois anos”, ele diz, fazendo uma careta. “Foi aterrorizante. Eu não sabia os nomes das notas então, se eu me perdesse, estava ferrado!”

Ele achou que teria mais tempo para aprender, mas a ascensão do Franz foi rápida e vertiginosa. Para sua grande surpresa, eles acabaram sendo a banda que as pessoas estavam esperando. Kapranos recorda, inicialmente, como um alegre reconhecimento . “Tudo parecia certo, pois tudo veio de nós: cada música, cada parte do design das capas, cada ideia para os vídeos. Isso foi ficando mais difícil.”

A alegria logo se transformou em frustração, pois havia tanta pressão e tão pouco tempo para escrever músicas novas. Kapranos e McCarthy, enlouquecidos pelo estresse, foram mesmo às vias de fato depois de um show em Paris no final de 2004. “Eu me lembro de pensar, ‘Vocês que se f*dam, eu vou fazer esse álbum [You Could Have It So Much Better, de 2005] o mais rápido que eu puder”, diz Kapranos. “Eu não me importo o quanto estou fisicamente esgotado. Vou fazer isso por que é o que o The Smiths, The Beatles e Bowie fizeram! Mas é claro que o The Smiths não fez uma turnê de nove semanas nos Estados Unidos. Isso tem um efeito extremamente prejudicial para a produção da banda. Você deveria estar criando essas coisas, não apenas executando-as.” Thomson diz que foi gravado “em um estado de pânico: se a gente sumir, as pessoas vão se esquecer de nós.”.

Ao mesmo tempo, Kapranos percebeu que ele não queria ser uma celebridade. Como a estrela do rock mais letrada e amigável para a Radio 4 desde Jarvis Cocker, ele foi bombardeado com tentadoras distrações. Ele aceitou uma coluna sobre comida para o The Guardian, mas desistiu quando começou a receber convites para apresentar programas de culinária na TV. Ele recuava com perguntas sobre seu relacionamento com Eleanor Friedberger, do Fiery Furnaces, que acabou em 2009. Ele se tornou ainda mais defensivo depois de sofrer com as atenções de um perseguidor.

Se o segundo álbum foi feito muito rápido, então o Tonight: Franz Ferdinand, de 2009, teve o problema oposto. Foi um processo longo e infeliz, cheio de falsos começos e fatigantes sessões de 14 horas. “Foi terrível”, diz Hardy. “Nós íamos para este espaço sem nenhuma música e começávamos a tocar, que é a coisa que menos prefiro fazer no mundo”. A gravação intensificou seus temores, iludindo sua entrada na carreira da músico. “Eu odeio sentar numa sala enquanto Alex e Nick conversam sobre escalas maiores e menores e seja lá o que mais. Era como estar numa sala com pessoas que falam outra língua e você só sabe o bê-á-bá.”.

Mas o álbum foi moleza, comparado com o ano em turnê, que finalmente terminou na América do Sul, em abril de 2010. “Se há algum ressentimento em relação a alguém, isso pode ser bom no palco. Há uma faísca,” diz o esguio e forte, otimista McCarthy. “Mas já no final da turnê eu estava no palco, havia milhares de pessoas me assistindo e eu não estava sentindo nada. E quando acabamos a turnê, nos sentimos vazios. Não havia sobrado nada. Foi realmente um revés. Foi meio ano de quase-crise-de-meia-idade, só deitado na cama, sem fazer muito”.

“Nós simplesmente paramos de falar uns com os outros”, diz Hardy, que atribui parte da culpa ao excesso de bebida. “Foi uma bagunça”.

*** (continua…)

FONTE: Q Magazine – outubro 2013 / Foto: Andy Knowles

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