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“Só somos estrelas quando estamos no palco“ – Revista Visão 08/2013

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Right Thoughts, Right Words, Right Action é o título do novo disco da banda escocesa. Que, ao que quarto álbum, traz de volta o rock dançável dos seus primeiros trabalhos. Um regresso que, afinal, talvez não o seja, explicam os músicos, numa conversa exclusiva com a VISÂO.

 

 

 

POR MIGUEL JUDAS, EM LONDRES

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Há já muito tempo que não se ouvia falar dos Franz Ferdinand. Recentemente, surgiram até rumores sobre a separação dos músicos da banda de Alex Kapranos, Nick McCarthy, Bob Hardy e Paul Thomson, nunca negada pelos próprios. Apesar das boas críticas, o último disco de originais, Tonight: Franz Ferdinand (2009), foi recebido com desconfiança pelos fãs, por se afastar da matriz de guitarras a alta velocidade que tornou o grupo numa das mais populares bandas rock da primeira década do século XXI. No universo pop-rock, quatro anos é uma eternidade. Agora que um novo álbum, Right Thoughts, Right Words, Right Action (Domino), está prestes a sair (é lançado na próxima segunda-feira, dia 26), a palavra <<regresso>> impõe-se como um bom início de conversa com o vocalista Alex Kapranos, 41 anos, e o baterista Paul Thomson, 36 anos. Escrevemos <<regresso>>?…

<<Demorámos 32 anos para gravar o primeiro álbum, portanto estes quatro nem me parecem assim tanto. E a ti Paul?>>, atira Kapranos. O baterista encolhe os ombros e, apesar do sorriso, passa ao contra-ataque: <<É por isto que os Boards of Canada [banda escocesa de indie rock] não falam com os jornalistas. A primeira pergunta que lhes fazem é sempre essa: ‘Porque demoraram tanto tempo?’>> A VISÃO insiste, mas a resposta não se faz esperar. <<Essa coisa dos regressos lembra aqueles cantores dos anos 60, que passavam algum tempo a fazer cinema e televisão e depois regressavam à música com um grande alarido. Mas regressar de onde? Parece-me uma expressão um pouco arcaica para ser usada a nosso respeito>>, afirma Alex Kapranos. <<Há muitas bandas que demoram algum tempo a editar discos novos, como é o caso dos Coldplay ou dos U2, e ninguém acha estranho. É algo que tem a ver com a longevidade dos grupos: se queremos ter uma carreira longa, com alguma relevância artística, não podemos lançar discos todos os anos, que foi o que aconteceu com os nossos dois primeiros trabalhos, porque, nessa altura, estávamos cheios de ideias e editar só um álbum não foi suficiente>>, acrescenta, rindo. O vocalista continua: <<Podíamos ter demorado menos e criar um álbum de merda. Foi uma opção nossa fazer o trabalho que queríamos, sem estarmos preocupados com o tempo.>>

A verdade é que outras bandas contemporâneas dos Franz Ferdinand, como os norte-americanos White Stripes ou The Strokes, que contribuíram igualmente para dar uma nova vida ao rock, nos primeiros anos do novo milênio, desapareceram, entretanto. E o silêncio a que os escoceses se remeteram, depois de editarem os álbuns Franz Ferdinand (2004), You Could Have It So Much Better (2005) e o referido Tonight: Franz Ferdinand (2009), também não ajudou, sublinhamos… <<Reconheço que isso possa ter causado alguma especulação quanto ao futuro da banda, mas se decidimos parar de falar com os jornalistas foi porque, simplesmente, não tínhamos nada para dizer. É a diferença entre ser músico e ser uma celebridade. Estamos aqui hoje porque temos um disco novo e queremos que os leitores da VISÃO desfrutem dele, não tem nada a ver com questões de ego ou de fama>>, justifica Alex.

O rótulo de estrela rock teima em não se colar à pele do frontman da banda: <<Só somos estrelas quando estamos no palco. Quando o concerto acaba, voltamos a ser pessoas normais. Eu era muito mais espalhafatoso quando tinha 20 anos, mas, felizmente, nessa altura, ninguém me conhecia. Ainda bem que só gravei o primeiro disco aos 32 anos, seria um tipo insuportável se o tivesse feito antes>>, declara Kapranos, que, antes de se dedicar ao rock, foi cozinheiro e professor universitário.

Um disco como antigamente

Right Thoughts, Right Words, Right Action começou a ser preparado em 2011, nos estúdios caseiros de Alex Kapranos e do guitarrista Nick McCarthy. <<No início, fizemos sete músicas seguidas, mas as outras surgiram espaçadamente. Não foi <<chegar, sentar e gravar>> as dez canções. Tratou-se de um trabalho muito longo, desde a composição à escolha final dos temas. Mas, acima de tudo, foi um processo divertido>>, conta Paul Thomson. <<Foi por essa razão que estivemos isolados durante tanto tempo. Ninguém sabia nada sobre o que estávamos a fazer, nem sequer a editora>>, corrobora Alex. Entendem agora a primeira pergunta do repórter? <<Claro que sim, até porque neste disco, fizemos tudo ao contrário.>>

Por exemplo, no modo como deram a conhecer aos fãs as novas músicas: sem aviso, em abril passado, durante um concerto nos EUA. No dia seguinte, estavam todas no Youtube e quem quisesse podia ouvir o disco completo. <<Mais transparente que isto é impossível. Ao contrário da maioria das bandas, que não revelam as músicas mas colocam informações diárias na internet para aguçar a curiosidade dos fãs, assumimos uma atitude muito mais honesta. Não me incomoda nada que as pessoas partilhem os nossos concertos, até porque nem sequer percebo muito bem como funciona a indústria musical>>, diz, entre risos, Kapranos. A fuga de informação permitiu perceber a reação do público: <<Foi muito bom sentir que as pessoas viam um disco novo dos Franz Ferdinand como uma boa notícia.>>.

O vocalista passa, subitamente, de entrevistado a entrevistador: <<Já ouviu o álbum? Qual a música de que gostou mais?>> Hum… talvez Love Illumination e Goodbye Lovers and Friends. <<E porquê?… Bem, porque sim… Boa resposta, vou usá-la nas entrevistas, Love Illumination tem, de facto, um grande riff de guitarra, e é muito divertida de tocar ao vivo>>, concorda Alex.

O postal misterioso

O título do novo disco não remete para uma posição política mas pode ser assim interpretado nos atuais tempos de crise, o que não incomoda os músicos, muito pelo contrário. <<Vivemos uma época de protestos na Europa, e é normal que possa ser lido assim>>, reconhece Kapranos. O músico assume estar, hoje, muito mais desperto para as questões sociais. <<Tenho família a viver na Grécia e acompanhei de perto as consequências da crise econômica que também está a afetar Portugal. O ressurgimento da extrema-direita, por exemplo, é um sinal de alarme que não podemos ignorar. Apesar de não ser necessariamente uma posição política, [o título] é uma frase e um sentimento que pode e deve ser aplicado nesse campo>>, conta.

A história por detrás de Right Thoughts, Right Words, Right Action tem tanto de prosaica como de misteriosa: <<O nome do disco surgiu depois de eu ter encontrado um postal numa feira da ladra, com uma frase escrita: ‘Regressa a casa, praticamente tudo está quase perdoado.’ Parece o início de um romance que deixa tudo em aberto e nos põe a pensar. Será que eu iria para casa? E o que é praticamente tudo?>>, explica Alex. Mas a história não se fica por aqui: o postal, enviado de França para uma morada em Londres, está endereçado a Karel Reisz, realizador de origem checa falecido em 2002, pioneiro do movimento Free Cinema inglês e autor de Saturday Night and Sunday Morning, um dos filmes favoritos de Kapranos. <<Foi uma coincidência muito bizarra, um daqueles momentos que nos faz refletir.>> A enigmática mensagem acabaria também por ser usada na letra da primeira faixa do disco, Right Action.

Com o novo álbum, a banda regressou à estrada. Para já, não há qualquer concerto agendado no nosso país, mas não será de estranhar que o quarteto volte em breve. <<Adoramos tocar em Portugal. A última vez foi o ano passado, num festival [Marés Vivas] no Porto. Eu fui, com a minha namorada, uma semana antes. Alugámos umas bicicletas e andámos a explorar a cidade. Come-se muito bem, no Porto. Adorei os restaurantes de peixe, em Matosinhos. Mas não vamos falar de comida, se não me calo>>, confessa o músico, que é autor do livro Snacks e Outros Sons, sobre as experiências gastronómicas da banda em digressão. Voltemos então ao palco, que, passados dez anos, continua a ser o território natural da banda. Porque é que tocar ao vivo será assim tão importante para os Franz Ferdinand? <<Bem, porque sim… >>

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       Right Thoughts, Right Words, Right Action – Posto de escuta
A VISÃO ouviu o novo disco dos Franz Ferdinand. E gostou

Right Thoughts, Right Words, Right Action remete para os melhores tempos da banda, quando temas como Take Me Out, This Fire e Do You Want To invadiram as pistas das discotecas com um rock de guitarras que puxava à dança. Ao mesmo tempo, soa a novo, não se limitando às velhas fórmulas de sucesso. É composto por dez temas de ambientes musicais diversos mas imediatamente identificáveis com o <<som Franz Ferdinand>>. E esse é o melhor elogio que, agora, pode ser feito ao quarteto de Glasgow. <<Queríamos soar ao mesmo, mas de forma diferente>>, assume Alex Kapranos. <<Há sonoridades novas, porque é bom abrirmos os nossos horizontes, mas também é importante manter a essência do que somos.>>

 

FONTE: Revista VISÂO / Foto: Andy Knowles

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