15 49.0138 8.38624 1 0 4000 1 http://franzferdinand.com.br 300 true 0
theme-sticky-logo-alt

Valores Familiares: DiS Encontra Manuela

104794

Por Joe Goggins 1 de junho de 2017

Em julho do ano passado, Nick McCarthy anunciou que estava deixando o Franz Ferdinand, do qual fora um dos membros fundadores quando a banda surgiu no cenário centrado em torno Escola de Arte de Glasgow no início dos anos ‘00. A separação foi evidentemente amigável e foram 3 os motivos dados na declaração conjunta de McCarthy e seus antigos companheiros de banda; pode não ser necessariamente uma separação definitiva, mas McCarthy não podia se comprometer a viajar porque tinha uma família jovem e queria se concentrar na produção e criação de suas próprias músicas.

Entretanto, o que nós não tínhamos percebido é que sua família e suas diferentes ambições criativas estavam intrinsecamente ligadas. McCarthy e sua esposa, Manuela Gernedel, estão juntos desde antes de o Franz Ferdinand ser uma preocupação; eles se conheceram no final dos anos noventa na Bavária, onde ambos cresceram, e se casaram em 2005, no mesmo dia do Live 8 – o que explica por que a banda recusou uma oferta para se apresentar lá. Gernedel é uma artista que estudou pintura em Glasgow na escola de arte e também já ensinou a disciplina.

Ela não tem muita experiência musical, ou pelo menos não além do Box Codax, o grupo que formou com McCarthy e alguns outros em seus dias de estudantes. “Aquilo era um projeto diferente”, ela explica por telefone, da Alemanha, “e Nick e eu não éramos realmente os personagens principais daquilo”. O casal ocasionalmente se apresentava junto em aberturas e festas, com uma piada interna entre eles e os outros membros do Box Codax de que eles pareciam só tocar juntos na época do Natal, que geralmente era o único momento em que o Franz Ferdinand ficava fora da estrada.

Silenciosamente, McCarthy e Gernendel sempre trabalharam, aos trancos e barrancos, em suas próprias músicas também. “Nós tínhamos rascunhos espalhados, apenas com músicas meio acabadas, mas nunca tivemos tempo para terminá-las – sempre estávamos tão ocupados com nossas próprias coisas”, explica Gernedel. “Nós nem sempre trabalhamos facilmente juntos de qualquer maneira, mesmo quando tivemos a chance; No passado, discutiríamos rapidamente”.

Porém, as coisas mudaram; Para começar, o casal tem um filho pequeno, Vito, e está mais sossegado do que nunca como resultado. Além disso, sua colaboração musical finalmente deu frutos; Agora eles são oficialmente uma banda, simplesmente sob o nome de Manuela, e têm um álbum de estreia autointitulado para apresentar. É um caso deliciosamente excêntrico, flutuando entre o hazy electro e pop dos anos sessenta, com até uma pitada de dub. O álbum inteiro tem uma sensação de verão atravessando suas veias, e as letras de Gernedel – obscuras num minuto, claras no outro – refletem docemente sobre a maternidade e paternidade e, tristemente sobre a sociedade. O disco parece um trabalho pensado e coeso, mas, por toda a conversa de McCarthy sobre a mudança para novos projetos, ele não tinha isso em mente na época.

“Foi mais uma surpresa, sério”, ele lembra. “Eu estava trabalhando em algumas coisas, como uma trilha para uma série de TV alemã chamada München 7, então esse não era o meu foco principal para começar – era só que meio que concordamos em gravar porque estivemos trabalhando nas músicas por tanto tempo. Acabou se transformando em algo especial conforme continuamos, e algumas das outras coisas em que eu estava trabalhando não deram certo. Eu vinha praticando escrever com outras pessoas de forma espontânea, um pouco como encontros rápidos musicais, mas nenhum deles ficou como esse álbum. Eu realmente estava gostando de todo o processo”.

Gradualmente, eles perceberam que tinham músicas suficientes para lançar um álbum, mas nem tudo foi um mar de rosas; entre os obstáculos que eles tiveram de lidar ao longo do caminho, incluía uma faixa que teve de ser descartada por ficar bem abaixo dos padrões das demais, e outra que era um cover de uma música de um compositor italiano, que eventualmente decidiu não liberá-los para usá-la no final das contas. Além disso, na opinião de McCarthy, Gernedel não percebeu quão intrincado seria o processo de lançar um LP. “Por um longo período de tempo, creio que ela pensou nisso como um projeto de arte ou uma coisa de palavra falada, e do outro lado, eu estava apenas me concentrando em chegar a essas composições e ideias para músicas. No final, conseguimos encontrar um meio termo, por isso parece realmente e genuinamente colaborativo. Isso também foi verdade para a produção do álbum”.

A contribuição de Gernendel para o Manuela, então, é bem enraizada em sua história como artista. “O mais importante que eles te ensinam na escola de arte é que você deve tentar coisas diferentes” ela diz. “Baseie-se apenas em ideias, e depois trabalhe na parte técnica – ou não. O ponto de partida seria quase uma palavra falada, e eu queria que fosse realmente simples e despojado. Eventualmente, você percebe que pode soar como uma boa ideia na sua cabeça, mas na prática, fica horrível de se ouvir. Você tem que procurar por outras maneiras de criar a atmosfera que deseja entregar, então muitas das conversas foram sobre as melodias e os instrumentos.”

O casal viveu em Londres por anos e são vagos no porquê terem se mudado para lá em primeiro lugar, quase como se não conseguissem explicar por si mesmos. Afinal, eles não possuem nenhuma conexão com o local – McCarthy nasceu em Blackpool, Gernedel na Áustria – e os dois já haviam dito que nunca esperavam ficar lá pelo tempo que ficaram. Semelhantemente, ambos concordam que o ambiente da capital influenciou Manuela, para o bem ou para o mal, mas a impressão que você tem é que eles ainda não estão convencidos pela cidade que já chamaram de lar por tanto tempo.

“É um vem e volta entre estar em estado de amor e admiração pelas pequenas coisas em Londres, e a percepção que está meio que desmoronando e caindo ao seu redor” admite Gernendel. “Eu primeiramente notei o lado político disso quando teve manifestações gigantescas quando as taxas estudantis aumentaram e ninguém notou. Eles apenas passaram por cima. Nós estávamos indo para o estúdio na época da votação no último verão, então tem um pouco desse choque lá também. Londres pode ser um local injusto e hostil para muitas pessoas, mas tem uma mistura incrível de culturas e parece bem livre nesse aspecto. Crescendo na Bavária tudo é tão ordenado e conservado, e sempre tem alguém te observando. Em Londres, ninguém liga – ninguém está de olho em você a todo instante, o que eu gosto.”

“É estranho que nós tenhamos ficado aqui por todo esse tempo, porque o esperado de quando estávamos em Glasgow era que as pessoas se mudassem pra cá por um tempo e geralmente voltassem odiando o lugar”, ri McCarthy. “Dão uma olhada ao redor e fazer um ‘meh, não é para mim’”. Muitas das letras focam no mundano, nas coisas do dia-a-dia, mas tem um tom oculto de decadência. “O sentimento que você tem em Londres e na Grã Bretanha em geral agora é bem sombrio, mas eu acho que você sempre tem que olhar para o lado positivo. Eu gosto do fato que você pode ter um café da manhã somali, um almoço caribenho e um jantar turco, e sem ter que sair da mesma rua, esse tipo de coisa. Nenhum outro lugar da Terra é tão multicultural, mas equilibrando isso contra o fato de que as pessoas estão lutando para ganhar a vida criativamente; muito de nossos amigos se mudaram porque não tem mais condições, e você tem ótimos clubes como o Passing Clouds sob ameaça de fechar”.

Quaisquer que sejam suas ressalvas, a dupla parece estar bem feliz em mencionar seu filho, que nasceu em 2011 em Londres, e a transição deles para a paternidade está emocionalmente relacionada ao Manuela, especialmente na linda canção de ninar Invincible, na qual Gernedel cantarola “There are crumbs between your fingers and milk on your tongue / There is grass and there is milk, and love / You’ve made me invincible.”  (“Há migalhas entre seus dedos e leite em sua língua/ há grama e há leite, e amor/ você me fez invencível”). Isso representa de certa forma os dois principais motivos pelos quais McCarthy deixou sua antiga banda, ele está fazendo novas músicas que têm justamente sua família em seu núcleo emocional. “Muitas das letras saíram daquelas pequenas coisas que você tem de se concentrar no seu dia-a-dia como mãe”, relata Gernendel “Eu gosto da ideia de que se nós fizéssemos um álbum dez anos atrás, teria principalmente músicas sobre amor e como sentíamos a falta um do outro quando Nick estava em turnê, mas agora tudo está mudado. Ainda escrevemos músicas de amor, mas muitas delas são direcionadas ao nosso filho”.

Tanto McCarthy como Gernedel parecem deixar as portas abertas em relação ao que o futuro reserva para o Manuela. Ambos têm outros projetos para se focar, e McCarthy ainda não encerrou oficialmente o assunto sobre o Franz Ferdinand, na época a declaração se esforçava a apontar que sua saída não era necessariamente permanente, e se aplicava principalmente ao quinto álbum da banda e sua consequente turnê. Ele reafirma que pode voltar ao grupo um dia. “Talvez eles percebam ‘Hey, é ótimo sem o Nick! ‘Nós veremos para onde tudo irá daqui alguns anos. Quem sabe, talvez eles queiram uma pausa da banda assim que terminar a turnê daqui uns anos, justo quando eu estiver pronto para voltar!”

Enquanto isso, ele e Gernedel vão tocar esporadicamente ao vivo para divulgar Manuela, com uma turnê mais extensa descartada pelo fato que eles são, afinal, jovens pais. “Os shows que andamos fazendo são realmente especiais” diz Gernedel “mas não podemos ir muito longe, não importa o quão dispostas às avós possam estar. Nós temos uma banda muito boa na qual nos damos muito bem, embora ainda estejamos descobrindo o que podemos fazer de tempos em tempos. Nós sabemos que podemos de fins de semana!”.

k

TRADUÇÃO / AGRADECIMENTOS: Amanda Moreira e Paula Higa

FONTE: Drowned In Sound | Lost Map Records

Previous Post
Feliz aniversário Alex!
Next Post
A vida depois de deixar uma banda de rock de sucesso